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21 fevereiro 2013

Douro Superior brilhou em Foz Côa

António Falcão com fotos de Ricardo Palma Veiga

O Douro Superior é definitivamente um Douro diferente. E Vila Nova de Foz Côa quer ser a capital desta sub-região. O objectivo foi lançado com a realização do 1º Festival de Vinhos do Douro Superior, que incluiu um concurso de vinhos, colóquio, provas comentadas e muita animação.
Gustavo Duarte era um homem feliz. O presidente da câmara da cidade de Vila Nova de Foz Côa conseguiu finalmente inaugurar a Expo Côa, o espaço de exposições desta cidade duriense, onde a vinha e o vinho são a actividade dominante. Não surpreende assim que a inauguração deste espaço tenha sido realizada com os frutos mais preciosos da região. Para além dos vitivinicultores do concelho, estiveram presentes muitos outros dos concelhos vizinhos, dentro da sub-região denominada Douro Superior. Esta é a zona do Douro mais encostada a Espanha e, dentro do Douro, a região mais inóspita e selvagem. E é também a sub-região mais quente e seca e por isso a única no Douro que tem, de forma generalizada, rega instalada nas vinhas novas (e não só). Além de Foz Côa, o Douro Superior abarca os concelhos de Carrazeda de Ansiães, Figueira de Castelo Rodrigo, Freixo de Espada à Cinta, Meda, S. João da Pesqueira e Torre de Moncorvo.
O certame abriu portas sexta-feira da parte da tarde e quando as fechou, no domingo à noite, terão passado pela Expo Côa cerca de 6.000 pessoas, número que superou largamente as expectativas.

Muitos e bons vinhos
A feira começou morna na tarde do dia 19, sexta-feira, mas começou a animar rapidamente depois da inauguração oficial, que contou com a presença do sub-secretário de estado Feliciano Barreiras Duarte, que discursou e visitou demoradamente os muitos stands presentes. A entrada era grátis mas o visitante, se não levasse copo, poderia adquirir um na entrada (por 2 euros), com uma bolsa de guardar o copo ao peito, tal como se faz no Encontro com o Vinho de Lisboa. A esmagadora maioria dos stands pertencia a produtores de vinho (eram mais de 50) e os restantes estavam destinados às iguarias e outros produtos da terra, como o azeite ou as amêndoas, duas produções fortes da zona. Todos (ou quase) os mais emblemáticos produtores de vinho do Douro Superior estiveram presentes mas não foi só quantidade – com mais de 200 vinhos diferentes à prova - que surpreendeu. Muitos dos técnicos e proprietários de quintas marcaram presença contínua na feira, informando os visitantes sobre as características dos vinhos. Via-se muita gente interessada, incluindo pequenos lavradores que fazem também o seu próprio vinho, muitas vezes para consumo interno ou para os amigos. A esmagadora maioria dos visitantes, contudo, era constituída por enófilos, oriundos sobretudo da região e do norte e centro do país. Cerca de duas dezenas de jornalistas e proprietários de algumas das principais lojas de vinhos nacionais marcaram igualmente presença. Este grupo teve depois oportunidade de visitar algumas quintas da região, como a do Vale Meão, Conceito Vinhos e Quinta da Leda e Ervamoira.
A produção do evento – a cargo de uma equipa especializada da Revista de Vinhos – providenciou também muita animação para as tardes de sexta, sábado e domingo. Saltimbancos, bandas de música, tambores, humoristas, houve um pouco de tudo.

Provas comentadas
Luís Antunes e Fernando Melo, colaboradores permanentes da Revista de Vinhos, protagonizaram alguns dos momentos altos deste evento, as provas comentadas, abertas ao público mediante inscrição prévia era gratuita. Por uma das salas do complexo passaram primeiro “Grandes brancos do Douro Superior”, “Grandes tintos do Douro Superior” e, finalmente, “Tawnies e Vintages do Douro Superior”. Provas extremamente interessantes todas elas, e muito participadas. Os vinhos foram judiciosamente escolhidos pelos apresentadores que, escusado será dizer, optaram pelo melhor que se faz nesta região. Vinhos que motivaram muitas conversas entre os presentes.

Um colóquio fundamental
No campo mais técnico da vitivinicultura fez-se também um pouco de história no pavilhão de exposições de Foz Côa. Foi um dia inteiro a debater temas sob o lema “a vinha e o vinho do Douro, o desafio da qualidade”. Participantes de grande qualidade e um enorme nível de debate, com muitos temas candentes a autenticamente ‘pregarem’ a audiência aos assentos.
Resumir um Colóquio de Foz Côa com nove comunicações e uma mesa redonda de temas “quentes”, em meia dúzia de palavras, não é tarefa fácil.
Os temas ecológicos, cada vez mais em voga na região, estiveram a cargo de Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão), Alexandre Mariz (Symington Family Estates) e António Magalhães (Fladgate Partnership). Ficou claro que os viticultores olham cada vez com maior interesse a viticultura Bio que, apesar de ser mais dispendiosa, tem em alguns mercados de exportação uma maior procura que os vinhos de viticultura convencional. Por outro lado a erudição vitícola do Douro preocupa-se agora com a arquitectura das vinhas e com a sua durabilidade geracional. Voltamos a pensar em tamanho grande numa região que sempre preferiu o formato pequeno.
As castas e clones foram também abordados nas apresentações de Eduardo Abade e José Maria Soares Franco. Do primeiro recolhemos a certeza de que o Douro são muitas castas e não apenas meia dúzia delas e do segundo que é possível manobrar clones para obtermos as nossas mais ambiciosas metas.
Pragas e doenças de lenho não foram esquecidas: Cristina Carlos da ADVID levantou o alerta para a “nova cigarrinha” da Flavescência Dourada a causar cada vez mais estragos no nosso país (obriga ao arranque da vinha), e José Freitas descansou-nos no que refere a doenças do lenho: por enquanto nada de alarmante.
As artes da vinificação ficaram a cargo do know-how Symington na voz de João Pedro Ramalho e a prova de vinhos de “novas” (antigas) castas do Douro coube a Jorge Moreira, da Real Companhia Velha. Foi um final em jeito de festa, porque percebemos que há um muito Douro para além das Tourigas.
Ao colóquio não faltou uma mesa redonda onde foi discutido um polémico tema regional: Uma vinha com duas denominações: Porto e Douro, complementares ou antagónicos?

Fonte: Revista de Vinhos (19/02/2013)

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