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04 julho 2012

Se o Douro não existisse, nós inventá-lo-iamos... A propósito do II Passeio Pedonal pela Linha

Desta vez o tempo veio por encomenda. Três dias apenas depois de ter atingido quarenta e oito graus à sombra, a manhã do dia 30 de Junho nasceu fresquinha e convidativa ao passeio. O S. Pedro acordara bem disposto, no seu próprio dia, e programara um clima propício à caminhada, que não sendo penosa, trazia algumas dificuldades, não só pelos seus 12 quilómetros de extensão, mas também pelo mato selvagem que inundava a linha, nascido do empedrado desconjuntado que agredia a sola dos pés!

Comigo e com o Zé, isso não importava! Há muito que dedidiramos viajar no pequeno bote/banheira para apoiar o pessoal. Então, porque não?! Alguém tinha que fazer o serviço, até porque os bombeiros continuavam com o seu barco de socorro avariado, vai já para mais de um ano!

Mas como sempre, o Zé tem muito que fazer! Já andava a pé desde as cinco da matina, a regar o bacelo, dizia ele, e quando os caminhantes já se faziam à linha, ainda o Zé se debatia a engatar o atrelado do barco à trazeira da viatura; engatar é como quem diz: a amarrar o dito cujo ao taipal da carrinha e assim puxá-lo, vale abaixo, pela estrada do Cimo da Costa, não fosse a polícia estar à coca na rotunda do Pocinho!
Mas vistas bem as "circunstâncias" tudo correu pelo melhor! Exceptuando o desengate do barco que navegou uns bons sessenta metros com piloto automático, protegido pelos deuses do vale, que por ali vagueavam àquela hora; ou as obras do cais do Pocinho, que fizeram o Zé ensopar-se até aos tintins para pôr o bote a boiar; ou mesmo a corda que nunca existiu, sem qual o mesmo navegaria sozinho, desta vez pelo rio abaixo; digo eu, exceptuando estes pequeníssimos incidentes, até que as coisas não correram nada mal! A não ser que a perda do remo por duas vezes fizesse transbordar o copo de água do azar!
Porém, às 11 horas e trinta, rés-vés, como houveramos combinado, lá estavamos na estação de Castelo Melhor a dar àgua à rapaziada, naquela curta paragem até à estação de Almendra!

Mas tudo vale a pena, quando a alma não é pequena, lá dizia o poeta do Orfeu! E a "alma" desta gente abenegada, que quer mostrar aos poderosos da Terra que o Douro é Lindo e a Linha Indispensável, faz com que valha a pena continuarr a convencer as ovelhas negras de que o Vale do Douro é uma das maravilhas da Natureza, sem precisar de submeter-se a qualquer ridículo concurso televisivo!

Moldadas pelos deuses da Terra, as margens do Douro são forças hercúleas, gigantescas e ameaçadoras, mas também paraísos, que os homens cobriram de verdejantes tapetes, tecidos pelos montes fora, num cenário grandioso que, por quilómetros e quilómetros, se espraiam e refectem nas águas do rio!

Tudo no vale é grandiosidade e beleza! A destoar apenas a velha linha abandonada, com os carris esventrados, onde os frondosos eucaliptos morrem de pé, desafiando a triste sina a que foram votados, mas onde os cedros, teimosamente, continuam a acarinhar as ruínas do casario!

De quando em onde, as águias pesqueiras voltejam curiosas sobre o barco, interrogando-se sobre o que se passa no rio, não vá a ondulação ou o movimento da hélice ferir algum incauto barbo que lhes sirva de repasto!

As curvas do rio sucedem-se, lentamente, ao sabor da correnteza; o Douro espraia-se como um lago; as quintas parecem acompanhar a deslocação do barco, espelhadas nas águas das margens. No cimo dos montes crescem depósitos de água que dessecam os tapetes nas agruras do verão! E bem lá no alto, nascido da terra, mas roçando os céus, emerge o moderno zigurate dos deuses, a quem os hodiernos chamam de museu! Museu do Côa, do rio das mil e uma gravuras! Vale que terá sido o Olimpo dos terráqueos, cujo traço faz inveja a Picassos e a Dalis!
Viagem de sonho! Gente de escol! Sonho não sonhado!
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José Ribeiro
03.07.2012

2 comentários:

Um texto muito bem produzido e que nos leva a conhecer um pouco a beleza deste Douro.
Um ultraje ao povo por quem queira submeter a beleza por todos conhecidos, mesmo internacionalmente a um concurso, normalmente dependentes de votações por telefone, onde o litoral, por razões óbvias tem larga vantagem.
Retive do texto: " Vale que terá sido o Olimpo dos terráqueos, cujo traço faz inveja a Picassos e a Dalis!
Viagem de sonho! Gente de escol! Sonho não sonhado!"

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