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27 maio 2011

Os desastres anunciados do IP2 e do IC5


Se sair da A23 e depois da A25, para Celorico da Beira, em direcção a Vila Nova de Foz Côa e Bragança, e por ali acima, verá que são rasgados vales e montanhas. Os sítios mais impressionantes ficam feridos de morte. Na transição da Beira para o vale do Douro, o traçado destrói montes que pareciam invioláveis e, já pelo vale deslumbrante, são quintas, vinhedos, zonas agrícolas férteis que aparecem cortadas ao meio, tantas vezes em paralelo com a via já existente e, até, suficiente.

Um empreendimento turístico rural, na quinta do Chão de Ordem, ficará a algumas dezenas de metros do IP2. Até Vila Nova de Foz Côa, e depois, até ao Pocinho, e dali até à ponte sobre o rio Sabor, já se pode adivinhar a destruição de santuários paisagísticos que não merecem o mínimo respeito de quem procura os sítios mais fáceis e menos onerosos, do ponto de vista financeiro, para fazer obra e avançar.




No Vale da Vilariça, o desastre é demasiado óbvio. Zonas férteis são afectadas violentamente; há a confluência anunciada do IP2 com o IC5, que se adivinha destruidora das características essenciais deste vale principal, e há crateras que são abertas (para fornecer brita e outros materiais às obras) que irão ficar nas paisagens de diversos concelhos e freguesias como bombardeamentos pesados e ainda não avaliados no futuro turístico e ambiental da região.
Depois, há o IC5, que virá dos lados de Vila Real, do IP4, irá até à proximidade de Carrazeda de Ansiães e passará a sul e a nascente de Vila Flor. Neste concelho, atravessa quintas e vales importantes, corta vinhedos excelentes e terra com "benefício" de produção de vinho do Porto e, no vale que se abre para a Vilariça, ladeando a estrada para Roios, passará aí a 60 metros de outro empreendimento de turismo rural notável, recentemente erguido a pulso e inteligência, a dois quilómetros de Vila Flor.
Também o IP4, quando foi anunciado há dezenas de anos e lentamente realizado, foi propagandeado como factor de progresso decisivo para os distritos de Vila Real e Bragança e, afinal, o deserto humano, o abandono e o atraso reais instalaram-se e fortaleceram-se.

Os grandes projectos de IP, IC e auto-estradas deviam ser levados a cabo para servir e estimular a economia, a agricultura, o turismo e, sobretudo, a industrialização do interior. Mas nada disso está ligado e é coordenado. Há apenas o abuso, o lucro a todo o custo das empresas envolvidas, a imposição sinistra e avassaladora de mais deserto circulante e fugidio a acrescentar à imensa realidade de atraso e fuga para longe, sobretudo de quem é jovem e já percebeu que não há progresso real com propaganda, mentira e esvaziamento do que é essencial, num futuro já velho e previsível que nos cerca e asfixia.


Onde estão os ambientalistas, os lutadores pelos patrimónios natural, paisagístico e cultural? Que projectos de desenvolvimento da região servirão e propiciarão tanta destruição e atropelos da paisagem e da riqueza secular que estão em grave risco? Nada se sabe. Só se sabe é que campeia o "posso, quero e mando" das empresas envolvidas nos empreendimentos e que as autarquias locais estão caladas.

Nesta realidade violenta de "crises" e do mais que se verá, deveria haver algum decoro e vigilância efectiva por parte de quem aprova obras no papel e deixa "correr o marfim" que levará a nada e a coisa nenhuma, se assim continuar. Apenas o "chegar", "passar" e "partir" depressa das regiões depressivas não chega para justificar a brutal realidade que nos envolve e deprime mais ainda.

Fonte: MODESTO NAVARRO
DN, 08 de Nov. 2010
Imagens de José Costa e Adriano Ferreira

1 comentários:

Obrigado Carmen por trazeres até nòs uma noticia séria e meritòria de toda a nossa atenção. Através deste caso observamos que projectos de propaganda progressista podem revelar-se em autenticos desastres paisagisticos, beneficiando mais às empreses neles investidos que às populações locais que vêem o seu meio ambiente destruido. È uma "dor d'alma" assistir-mos impotentemente a este violento atentado à Natureza, ao meio rural que é o nosso e de que tanto nos temos orgulhado.

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